Eu não sabia que estava me sentindo tão sozinha

Agora pela manhã, eu estava me forçando a fazer journaling, digitando palavras aleatórias na esperança de encontrar uma pista. Às vezes, tudo parece estar bem na superfície, mas lá no fundo algo me pinica – algo que não consigo nomear. E olha que eu sou aberta a investigar meu comportamento e encarar as famosas “sombras”, mas, por algum motivo, certos desconfortos ainda não viram luz do dia.

E no meio desse fluxo de palavras aleatórias – plim! – um pensamento. A pista surgiu. Na verdade, agora que percebo, meu pensamento veio em forma de imagem, como uma fotografia.

(Pausa para um parêntese: estou lendo o livro Prakriti: Sua Constituição Ayurvédica, de Dr. Robert E. Svoboda. O autor menciona que, dependendo da constituição ayurvédica, algumas pessoas recuperam memórias através de palavras, outras por sentimentos e outras por imagens. No meu caso, elas sempre vêm em imagens.)

A imagem que pipocou foi de uma festinha que fui recentemente. Uma fotografia de conhecidos e desconhecidos em um salão de festas. Essa cena estava ancorada na minha frustração para com círculos sociais. Lembro de existir ali, rodeada de pessoas, uma playlist dos anos 90 e bebidas ásperas com gosto de bêbe-para-ficar-bêbado. No meio daquele tumulto, um vazio dentro do peito. Meus olhos apagados, sem brilho. Uma voz na minha cabeça: O que eu tô fazendo aqui? Por que eu vim aqui? Eu poderia estar em casa descansando, pintando, fazendo algo que me trouxesse valor.

Eu não quero parecer presunçosa, ok?

(Mais um parêntese: minha psicóloga fala que eu tenho que parar de dizer “Eu não quero parecer presunçosa”. Ela acha que eu me restrinjo demais, que eu me critico demais. Mas enfim…)

Não estou querendo dizer que as pessoas naquela festa são sem graça. Mas elas simplesmente não são as minhas pessoas. E eu não sou a pessoa delas. No momento em que aquela imagem brotou, eu me dei conta do que estava faltando: uma amizade com quem eu possa falar sobre espiritualidade.

Eu tô cansada de ser “a pessoa espiritual da sala”. Quando eu tento compartilhar minha visão através de trânsitos astrológicos, eu vejo sobrancelhas se arqueando em um “lá vem ela com a dança dos planetas”.

Certas pessoas ficam curiosas e querem saber mais. O problema é que a maioria não está realmente disposta a aprender uma visão diferente, mas sentir um pico de excitação, que logo é substituído por outro pico, como se as conversas ao seu redor fossem tão efêmeras quanto um feed de Instagram.

Também há o tipo de pessoa que acha engraçado e dá risada bem na minha cara, desmerecendo e infantilizando aquilo que é valioso para mim. Estou cansada de ouvir perguntas como “Meu mapa astral mostra o quão sexy sou?” ou, quando alguém que acabei de conhecer me diz “Se astrologia realmente funciona, então advinha o meu signo”.

Estou longe de ser uma expert em astrologia, mas uma pessoa que entende um pouquinho sobre esse assunto sabe que não é bem assim que a coisa funciona. Além disso, errar o signo solar de alguém gera uma confirmação de que astrologia é uma bobagem.

Às vezes eu me sinto como peixe e pescador ao mesmo tempo. Meus peixinhos querem nadar e fluir. Até que meu pescador me fisga para fora da água, dizendo “Não, não, peixinho. Daqui pra frente você não pode continuar”. Ele me joga para dentro de uma caixa, e ali permaneço: isolada, longe do meu elemento.

Estou cansada de me entregar pela metade. De me moldar para caber no outro. Tenho zero amigos que compartilham esse interesse. Um interesse no oculto, em procurar entender acontecimentos através de um ângulo que vai além do que é mensurável. Espero encontrar alguém com quem eu possa compartilhar, explorar e expandir esses conceitos.

As palavras fluem, e as lágrimas seguem. Desabafei uma solidão internalizada. Eu não sabia que estava me sentindo tão sozinha.