O benefício da dúvida
Eu não julgo quem tira conclusões precipitadas, porque eu mesma caio nessa armadilha de vez em quando. Quando isso acontece, eu me sinto profundamente envergonhada. E ontem, aconteceu de novo…
Aqui no prédio onde moro, os apartamentos não têm máquina de lavar, apenas salas de lavanderia comunal. E é preciso reservar um horário para ter acesso à lavanderia por 3 horas. Depois desse tempo, o seu acesso é bloqueado, e você não pode mais entrar.
Ontem, eu tive um probleminha com uma das máquinas de lavar: a portinha não abria, e minhas roupas ficaram trancadas. O tempo foi passando enquanto tentava resolver o problema, e as 3 horas passaram voando. Como perdi o acesso à lavanderia, deixei um post-it na porta explicando o ocorrido para o próximo vizinho. Pedi que ele deixasse a porta aberta para que eu pudesse resolver a situação.
Quando voltei, a porta estava fechada, e o post-it, ignorado. Você já deve imaginar o que se passou na minha cabeça…
Eu não acredito nisso! Que egoísta! Que tipo de pessoa faria isso? As pessoas não têm coração! Ok, eu entendo… Você não quer deixar suas roupas em uma sala aberta, mas você poderia, no mínimo, deixar um recado com o seu número de celular!
Eu não sabia quando ele voltaria, então eu fui até meu apartamento, peguei uma cadeira, voltei pro corredor da lavanderia e fiquei ali sentada, pensando: Eu quero ver quem é o tipo de pessoa que deixa um vizinho na mão (bem dramática, eu sei).
Quando ele finalmente voltou, eu estava pronta para dizer “Você viu o meu recado?”, mas então, eu vi que ele tinha um papel na mão. Ele me viu sentada ali e disse “Vi o seu post-it, mas não me sinto confortável deixando minhas roupas aqui com a porta aberta. Então, voltei pro meu apartamento e escrevi essa mensagem.” Ele me entregou o papel, e lá estava seu número de celular.
Felizmente, ele chegou se explicando, antes que eu tivesse a chance de confrontá-lo com algum comentário ácido. Ele não soube da minha indignação, mas eu fiquei muito envergonhada por ter caído nessa armadilha de julgamento, sem dar a ele o benefício da dúvida.
Nem por um segundo pensei: Talvez ele esteja escrevendo um recado para mim neste exato momento. Talvez ele esteja demorando, pois está com uma panela no fogão.
Algumas pessoas têm um dom natural de dar aos outros o benefício da dúvida. Eu, por outro lado, ainda estou aprendendo essa arte, que traz leveza e harmonia nos convívios sociais.
Vivendo e aprendendo.